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sábado, 30 de abril de 2011

Reis do Trash: Austin Stevens e Zé do Caixão



Leitor do blog, herpetólogo profissional da Espanha, manda o seguinte comentário:

"I was reading your blog and found your mention to the "Snakemaster" Austin Stevens and his video about the bushmaster with a lot of indians aiming its arrows to the snake, the video make me smile sadly, i was thinking about my brazilian friend Rodrigo and its fight to save this "horrible monster of the jungle" that needs a lot of indians with arrows and a "herpetolgist" doing a sad movie about a TRULLY WONDERFULL SNAKE, a sad stupid, a sad movie, a sad vision to the people about an endangered specie of snake and the more sad is that this is what the people believe about the bushmasters, a monster who deserves the death"

O episodio que vi sobre a surucucu é filme B puro, confira a partir do minuto 33':

https://www.youtube.com/watch?v=GNpKb08ERew


Observe que o animal cativo e liberado para a cena não dá a menor bola para aquele ser verborrágico e ofegante, e nem para os índios fake.

Tem uma outra sequencia lamentável, do sujeito nadando atrás de um dragão de Komodo horrorizado, um Michael Phelps do brejo-da-falta-de-noção.

Vai ver que dei azar ao assistir justamente a episodio excepcionalmente ruim, meu primeiro e último. Mas sinto que o que difere Austin de Zé é ter mais grana e menos sinceridade. Ambos são trash, mas Zé é transparente:

http://www.youtube.com/watch?v=BdRFuhobdNw&feature=related



domingo, 24 de abril de 2011

Os essenciais 9, Padre Lauro Palú



Padre Lauro me falava de como alguns dias no Caraça inundavam a existência de seus pequenos alunos. Passei os últimos três dias lá e senti na pratica suas palavras.

Primeiro dia caminhada dura de 11 km à Bocaina, campos fechados e preservados, 'os mesmos' (capim africano à parte) visitados por Saint-Hilaire (1779-1875), Pohl (1782-1843) e Von Martius (1794-1860), onde ainda se vê Vellozia de 300 anos (canela-de-ema) na escarpas.

Mais  acima, rumo à gruta, caminho traiçoeiro numa corredeira com todas as cores ....








À noite esperamos o lobo com Pe. Lauro, performático no 'display submissão' (abaixo), para deixar à vontade os novos e mais arredios representantes do grupo ora hegemônico, aqueles que se impuseram como dominantes ao grupo anterior:



Nem joelho operado detém Padre Lauro


No dia seguinte trilha com Pe. Lauro pela manhã, 7 km rumo aos Campos de Fora. Aula viva. Descoberta a cada passo, à procura de um cogumelo azul que não encontramos, mas fomos felizes na busca ...



Algo precioso no caminho


À tarde, a oportunidade de se conhecer uma das maiores flautistas destes país, Marie Thereze Odette Ernest Dias, e seguramente uma das duas mais preciosas flautas transversais deste planeta, uma Louis Lott de 1865, só superada pela de Rampal:



Gratos pela gentileza, Odette


Um pouco mais á tardinha, outro momento cientifico com Padre Lauro, desta vez com Luca acertadamente descrevendo uma Micrurus frontalis, infelizmente abatida antes da nossa chegada, e ainda carecendo classificação: "Verdadeira ou falsa ?"






Luca: "Verdadeira e perigosa"


Na sequencia, ansiosamente aguardando a chegada da Bióloga Raissa, para um importante trabalho com morcegos Myotis sp., que ainda não eram descritos para aquela região. Os meninos se prepararam por meses para esse dia, com vacinação anti-rábica pré exposição e tudo o mais, e a hora chegara.

O local dos trabalhos é o telhado da Igreja do Caraça, lugar especial em si, onde toda a engenhosidade dos construtores de 1883  fica bem aparente. Área fechada ao público em geral, uma honra estar lá.





Não temos como te agradecer, Raíssa



Pela manhã uma visita á biblioteca, e a chance de ver de perto o Naturalis Historiae, de Plinio, o Velho, nascido em 23 d.C e morto da explosão do Vesúvio, em 79 d.C. O exemplar que Luquinha admira é de 1489 ...






























Pude sentir nestes dias que, por mais que tentemos como pais envolver as crianças naquilo que avaliamos como bom e formador, mais uma vez Judith Harris prevaleceu. Nem cobra, nem morcego, nem flauta, nem aventura alguma, nem pai nem mãe nem mesmo "O CARA" (no vitral, abaixo) vale mais que um amigo ...



O Cara, vitral da Igreja do Caraça


Nada suplanta o grupo, que é onde as crianças melhor se entendem e se descobrem, e são mais felizes:

http://www.scientificamerican.com/article/parents-peers-children/

Não sermos pais sentimentaloides e centralizadores é fundamental. O espirito de grupo está no DNA de nossos filhos, e em ultima análise leva ao saudável 'abandono do ninho', inicio da jornada pessoal, sem a qual não há saúde global no indivíduo.



RPG: cavaleiros medievais no Calvário. Nada supera "o grupo" no coração infantil.



O Caraça, aqueles 11.233 hectares de Mata Atlântica, Cerrado, Campos Rupestres e Campos de Altitude, área de preservação permanente integral, tem a cara de Padre Lauro Palú, este homem profundamente do bem e perto do qual estou 'em casa', sempre atento à oportunidades de crescimento interior, como no diálogo abaixo ... :

Caro Rodrigo, envio hoje uma página de reflexão sobre o assunto de uma de nossas conversas no Caraça, na última vez em que nos vimos.

“Temos que impor limites a essa meninada...”


Quem pensa assim não percebe o fundamental: os Meninos e as Meninas não podem ser objetos de nosso cuidado ou policiamento; não somos nós que os educamos. São sujeitos de sua própria educação, na medida de sua compreensão, de suas capacidades, de sua consciência das coisas. Devemos impor limites? Ou ajudar a aflorar na consciência deles a noção dos seus deveres? Para ser sujeitos, neste caso, devemos colocar-nos noutra perspectiva, não ficar à mercê ou sob a imposição de quem traça para nós o que devemos fazer. Pois tenho tentado refletir com nossos Professores e Educadores, há alguns anos, que não se trata de impor limites, mas de estimular o crescimento de nossos Filhos e nossos Alunos.

Cheguei a esta conclusão e a esta prática de maneira gradual, mas muito clara. Parti de um dado básico que é o fato de que todos somos dotados da gloriosa liberdade de Filhos de Deus. Deus nos criou gloriosamente livres, capazes de escolher, entre duas ou mais ações, aquela que mais nos realiza, aquela que nos faz participar mais plenamente da Ressurreição de Jesus Cristo, isto é, de sua vitória sobre o mal, o pecado, a lei, a escravidão, a própria morte. Então, eu iria impor limites a um Menino, a uma Menina, a um ser humano, seja quem for, em nome de quê?. Com que poder, com que autoridade? Para que fim?

Há limites que são naturais ao nosso ser: até porque nascemos e morremos. Os Pais e alguns Professores não se referem aos limites naturais, característicos de seres humanos condicionados e falíveis, mas aos limites que julgam que devemos impor aos Filhos e Alunos, aos outros, para não nos incomodarem ou prejudicarem, ofenderem ou matarem. O pior é que nem sempre desvelamos os motivos de querer impor limites aos outros.

Não é bom deixar nossos Filhos ou Alunos “enterrarem o chifre”, fazerem as experiências que quiserem e depois terem que aguentar as consequências, pois às vezes não estão maduros ou preparados e equipados, mesmo física ou psicologicamente para isso. A lei estabelece idade para casar, para ser imputável criminalmente, para endossar ou avalizar cheques, para assumir postos de comando. Mas como ajudaremos alguém a se preparar para isso se os proibimos de fazer as coisas, se, em nome de sua idade, os impedimos de fazer certas atividades, de participar de promoções, de enfrentar desafios?

Estimular o crescimento é uma atitude corajosa e revolucionária, uma ação verdadeiramente transformadora, porque rompe com o esquema de poder de quem manda, os outros tendo que obedecer, porque são menores, são nossos Filhos, somos educadores deles, porque temos as notas e o Conselho de Classe com seu poder soberano e extremamente ambíguo. Em vez de impor mesmo os melhores valores, as virtudes, as mais heroicas e maduras atitudes de esforço, amizade, companheirismo, seriedade profissional no estudo, etc., já seria enorme progresso simplesmente propor essas coisas sem nos servirmos de nossa condição de adultos, Pais ou Educadores, para impô-las. O que falta, às vezes, é imaginação e criatividade, para mentar um modo novo, a maneira de fazer ainda não tentada, ainda não testada, que estimule o Aluno a interessar-se, a esforçar-se, a entreajudar-se, para dar conta, para superar a preguiça, o atraso, o cansaço, a falta de motivação e de interesse pelo que estamos dizendo ou ensinando.

Vendo o esforço com que correm, o que são capazes de criar com os dois pés, no futebol, o que conseguem fazer em equipe, sob um solão desgraçado, para defender o nome do nosso Colégio São Vicente num torneio de futebol, sei que está faltando alguma coisa para explicar que se atrasem todos os dias para as aulas, que conversem o tempo todo, que durmam, que leiam jornal, que nem venham à minha aula, que prefiram o corredor ou a sacada e a varanda a tudo o que tenho trazido para eles, ao longo destes anos. No dia em que a televisão mostrou a “pedalada” de um craque da seleção, os rapazes e as crianças começaram a treinar igual e já inventaram mil outros movimentos para desnortear o adversário no futebol. Não quero dizer que a aula tem que ser como um jogo de futebol e cada um de nós, melhor que o Neymar ou o Messi. Não quis dizer isso. Não vamos dar espetáculo, não vamos exibir-nos, não vamos manipular ninguém. Para nós, não se trata só de pôr mais figura, mais filme, mais retroprojetor em nossas paredes ou nossos quadros, nos olhos dos Alunos ou onde for.

Para esclarecer o que quero dizer com estimular o crescimento, dou um exemplo: Em vez de dizer a um adolescente: “Você deve estudar”, “você tem que estudar”, penso que, para o adolescente e para mim (que sou seu Pai ou Mãe, seu Professor, Inspetor ou Educador), o mais educativo, o que de fato realiza um processo de educação é conversar com ele e propor uma experiência de percepção e acolhimento voluntário de algum valor. Dizer, por exemplo: “Você já experimentou estudar com gosto, não apenas para a prova mas para aprender mesmo, para ter o conhecimento, como coisa boa para você? Você já notou como às vezes se sente feliz e contente por ter feito uma coisa boa, uma coisa de que você gostou, uma coisa que mostrou que você é inteligente, que é capaz, que pode de fato empenhar-se e que, quando se empenha, consegue bons resultados? Você não gostaria de fazer esta experiência mais vezes e sentir novamente o gosto de saber-se capaz, de sentir satisfação por você mesmo, ainda quando ninguém notar que você se esforçou e conseguiu? Você já pensou em agir de modo que seu comportamento ajude os outros, os alegre e anime, para que gostem de trabalhar e estudar e brincar com você? Você topa fazer isto, se nós o ajudarmos, se conseguirmos criar com você condições para você fazer isto de maneira habitual?”

Neste segundo modo de falar com o adolescente, em vez de 3 ou 4 palavras, usei 153. É uma frase mais longa e descreve um processo mais longo. O que distingue os dois modos de fazer é que não sou eu que imponho uma obrigação, mas somos duas pessoas desafiando-nos a dar o melhor de nós num engajamento mútuo, que não visa apenas me livrar das impertinências do adolescente, mas abre para nós dois um espaço de colaboração, de estima, de ajuda recíproca, de confiança na capacidade do outro, de verdadeiro bem-querer em relação ao outro e a todos os outros.

É claro, é evidente que só conseguiremos isso com uma atitude de bem-querer em relação aos nossos Alunos e Alunas. Um meu colega numa casa de formação dizia: “Essa cambada não quer nada com nada”. Esse não fazia absolutamente nada de nada para ajudá-los...

Eis aí, Rodrigo, um começo de conversa. Alguns dos meus Formadores daqui já entenderam e viram que estamos na linha de nosso projeto pedagógico: Formar agentes de transformação social. Com gente formada assim eu gostaria de trabalhar, para mudar o mundo.


Um abraço.
Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2012
Pe. Lauro Palú, C. M.



Por tudo e por tanto meu Amigo, pela minha família, por mim, meu muito obrigado....






Concluindo, o Caraça é uma área com as mesmas características a 500 mil anos, pelo menos. Existem datações em população divergente de uma certa orquídea, que incide no Santuário, e que sustentam essa afirmação. Ou seja, o bioma tem uma longa historia de resistência às hostilidades planetárias, como as glaciações, e mais que nunca precisa de um pulso firme em sua Direção para continuar como está, para conter outro nível de ameaça, o da crescente pressão antrópica.


Pe. Lauro Palú assumiu oficialmente a Direção do Santuário do Caraça em 1° julho de 2014. O Homem certo, na hora certa.















sábado, 16 de abril de 2011

Os essenciais 8 - Dr. Vidal Haddad Jr.




Para acreditar em casos suspeitos de ataques e envenenamentos envolvendo fauna, flora e o ambiente natural, preciso do aval de Dr. Vidal Haddad. Seu trabalho é grande parte dessa postagem.

Sobre a eterna campeã das listas de boatos, a sucuri, consta que a maior que já se viu mediu 11,40 metros, e foi abatida pela equipe de Rondon no Ribeirão Voadeiro em 1910. Essa medição veio de couro, e couro estica em até 30% a mais da extensão original. Nos dias de hoje, qualquer bicho na faixa dos 9 metros é excepcional. Qualquer homem que tomar uma laçada completa de sucuri média, de 5 metros, morre. Tive essa certeza ao remover este animal abaixo do centro da cidade de Itacaré, Bahia.




Não tenho duvida de que um bicho deste porte possa matar e engolir uma criança ribeirinha. O diâmetro das capivaras supera o dos ombros de uma criança nova, e já se achou capivara em barriga de sucuri. Pitons asiáticas, mais delgadas que Eunectes, comem gente com certa frequência.

Duas meninas foram 'atacadas e mortas' por sucuri em Minas Gerais recentemente:

http://lachesisbrasil.blogspot.com/2011/05/sobre-sucuri-que-matou-duas-meninas-no.html


Mas em 2006, em Maraú, Bahia, colhi pessoalmente um relato impressionante, e de conhecimento de todos da cidade:

O sujeito pescava nas margens de uma lagoa, quando foi atingido na coxa por um bote de sucuri. O bote foi seguido de uma tentativa de laçada de sua cintura. 

A vitima era um adulto, estava com água até o joelho, e conseguiu recuar para terra firme.

Em resposta aos gritos, o irmão agiu rápido e a golpes de facão matou o animal, de cerca de 4 metros. Vi as lesões da coxa uma semana após o ocorrido, e ouvi deste Sr. a confirmação de que não fosse pelo irmão, ele não teria sido páreo para a adversária.


Sucuri já matou gente no Pará. Mas nunca se achou o corpo de um ser humano na barriga de uma sucuri no Brasil:


"No momento, alguns colegas (João Luiz,  Marcelo Duarte) e eu estamos
finalizando um livro sobre aspectos biológicos (as três espécies e não
duas), folclóricos e relatos de ataques (e defesas) em animais de
grande porte e seres humanos por sucuris. No meu livro, tenho dois
acidentes em humanos sem provocação bem documentados e pude obter
recortes de reportagens com ataques fatais (um muito bem descrito e
reportado no Pará, enviado por um jornal de lá). Relatos de mortes
existem aos montes, mas nenhum comprovado por necrópsia. Este do Pará
com certeza é real, mas...


Quanto ao encontro de seres humanos dentro da cobra, acho pouco
provável. Nunca ouvi falar de algo em bases científicas, embora
existam alguns relatos em livros. Não creio, deve haver alguma razão
para que a sucuri (verde, bem entendido, porque a pantaneira é
pequena) não possa engolir animais muito grandes (o máximo que vi
forma porcos e um bezerro pequeno (tenho a foto no meu livro). O
interessante é que a píton reticulada é bem mais delgada que a sucuri
e vive devorando humanos.
"




Relatos envolvendo onças pintadas saem da esfera dos boatos: Panthera onca não teme e eventualmente preda gente. Dr. Haddad apresenta abaixo três casos: num deles a onça pulou dentro do barco, levando para a água um passageiro. Em outro, a onça arrancou o sujeito de dentro da barraca de camping fechada, arrastou-o por 60 metros floresta a dentro, devorando-o parcialmente.

Confira:












Pode-se esperar de tudo quando animais entram no 'modo sobrevivência'.

Um 'papa mel' filhote, fofinho, arrancou a falange distal do indicador de um incauto em Itacaré. Um pequeno veado deu uma cabeçada tão forte num filho de Aécio, em Araçuaí,MG, que se a galhada fosse um pouco maior haveria perfuração de intestino.

Quando invadimos o ambiente natural, devemos deixar nossa contemplação pura de lado, e 'ficar esperto'. Com a palavra Pe. Lauro Palú:


"Aquilo que você me escreveu, dos macacos-prego fazendo ameaças a vocês, coincide com a onça parda que o Pe. Marcus viu perto da ponte do Calvário, às 21h40min, com o lobo (ou a loba) que rosnou de modo ameaçador para a Cristiane Cäsar e suas estagiárias, com os porcos-do-mato que correram o Pe. Maurício no Engenho, com os dois veados que correram na direção de um turista na mata entre o Tanque Grande e o Campo de Fora, com aquela anta que se defendeu (no seu artigo, fora das reservas do Caraça e do nosso alcance, mas em situação semelhante às que estamos tendo e criando e agüentando cada vez piores...). Já não andarei facilmente sozinho nem mesmo para ir ao Tanque Grande, eu que ia pela trilha da Cascatona, que descia o asfalto, que ia por todo lado sem nunca alguém comigo..."


Falava com Dr. Rômulo, da FUNED, e ele me explicava que tem atendido gente de condomínios nos arredores de BH que querem o tal verde e a natureza, mas com total despreparo para o convívio com seu vizinhos naturais: besouros apavoram, caranguejeiras apavoram, mamangás apavoram, quatis apavoram, enfim, não há intimidade do homem com o mato. Aventura-se no ambiente natural sem conhecimento, e portanto sem precaução: sem esperar ou antecipar problemas com bichos.

Há 20 anos, 100% do soro anti ofídico era para o homem do campo. Hoje não. É gente do rapel, dos esportes ditos radicais, do ecoturismo. O numero de casos de ofidismo não aumentou como se diz, apenas migrou para publico mais escolarizado, e a sub notificação diminuiu.

Seguindo com os boatos, anta matando gente. A pacifica anta agarrada na jugular de um adulto, e provocando sua morte instantânea. Mais provável achar um corpo dentro de sucuri que uma anta 'assassina'. Mas um dia falaram que anta matou gente, e lá se foi Dr. Vidal checar. E era verdade:










Piranhas são outro alvo da boataria, mas só são perigosas em lagoa rasa, encurraladas na seca, e passando fome. Arraias de rio são perigos reais. Nos rios brasileiros recomenda-se andar arrastando pé, e não pisando.

Ainda na águas, outro boato: o da existência de um peixe esguio que entra pela sua uretra, atraído pela amônia de sua urina, enquanto você faz xixi dentro da água.


Fato, e Dr. Vidal explica:


"Candirus penetram em uretras devido ao cheiro de amônia similar ao das
guelras de peixes grandes, onde o pequeno vampiro parasita. Ele corta
artérias e se alimenta. Quando ele penetra em um orifício natural
humano, não tem como sair, pois tem odontoideos (pequenas garras) que
se fixam na mucosa da uretra ou ânus. O peixe é muito delgado e liso,
não havendo importância do tamanho, pois a uretra masculina é longa. E
o peixe morre após algum tempo, causando problemas imensos para vítima
(aquele candiru não tinha mais de um dia na uretra e estava morto)."


 
Esta discussão trouxe polemicas. Um medico escreveu incrédulo...


"Você está dizendo que um peixe vai penetrar dentro do pênis de uma pessoa pela uretra e ela não ter a tempo de fazer alguma coisa ? um peixe farejando amônia entrando pela uretra, em gente viva, me parece exagero"


EXPERIMENTE FALAR COM O UROLOGISTA DE MANAUS, DR ANOAR SAMAD.

ABAIXO, UMA EXTRAÇÃO CIRÚRGICA DO BICHO FEITA POR ELE, DE DENTRO DA URETRA DE UM PACIENTE.

Candirú (Ordem Siluriformes ; Família Trichomycteridae e Gênero Plectrochilus) retirado cirurgicamente da uretra. Conheça a região onde nada, ao entrar em rios Amazônicos.



Confira no vídeo abaixo candirus maiores invadindo o corpo de um afogado, às dúzias :

https://www.youtube.com/watch?v=foKDaz1gcHw


Ataques de jacaré também não são boatos. Jacaré-açú come gente comprovadamente. Para quem tem dificuldade em visualizar o porte destes animais, comuns na região amazônica, abaixo o registro de um resgate de Melanosuchus niger coordenado pelo biólogo Breno ...






E escute no link abaixo o relato impressionante de uma bióloga que perdeu uma perna para um bicho desses, mas que sobreviveu para contar ...

http://www.youtube.com/watch?v=B_VUEIdZch4


Abaixo, publicação de Dr. Haddad sobre caso fatal ...










Concluindo, este é o gosto maior do Brasil, uma natureza selvagem ainda existente, mas que exige cautela e conhecimento para interações mais seguras.

SE CUIDE:

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/08/primeiros-socorros-aos-acidentados-por.html







sexta-feira, 8 de abril de 2011

O mito da cobra verde e da coral verdadeira no Brasil




Corre no Brasil um mito de que 'cobra verde, tudo bem': a tal sabedoria popular, voz do povo voz de Deus.

Negativo




Acima um bicho verde de 35 cm, responsável por um acidente grave, fotografado na forma como me foi trazida pelo paciente.






O caso completo está aqui:

http://www.lachesisbrasil.com.br/download/BulChicagoHerpSoc_Vol42Num10pp161-163%282007%29.pdf

Esse animal acima é Bothriopsis bilineata (Wied-Neuwied, 1821). É conhecida por "pingo de ouro', 'ouricana' ou 'surucucu de ouricana' no Sul da Bahia. De certa forma é tão temida quanto Lachesis, porque arborícola, morde na cara, estraga o rosto com forte ação proteolítica, deixando marcas e lembranças

Ao observar os trabalhadores do cacau, pelo menos os tradicionais, em sua lida diaria na cabruca, entende-se com o tempo que o uso de chapéus e bonés em área tão sombreada é sabedoria pura. E memória ancestral. Deraldo me contou em detalhes o bote 'vindo do nada' e parado pela aba do boné. Recuperado do susto e após inspeção cuidadosa, viu que o ataque tinha vindo "de uma bolachinha, uma rudilhaziha de nada, no galho do cacau".

O diâmetro deste animal enrodilhado em posição defensiva pode ficar nos 8 cm, a 'bolachinha' invisível: http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/09/sobre-surucucu-que-nao-e.html


Com a Philodryas olfersii a mesma coisa, cobra verde com jeitão de bicho bobo, mas é uma mambinha tupiniquim. Falo isso porque há relatos de sua 'agressividade', andando rápido de cabeça alta, e porque mesmo sendo um colubrídeo opistóglifo, parece ter sido responsável por uma morte humana. Luquinha, abaixo, vai nos apresentar a um exemplar bem jovem...






Não acredito em 'agressividade' em cobra nenhuma, e sim em comportamentos defensivos dada á impossibilidade da fuga. Mas quanto à potencia do veneno não tenho dúvidas, acidente por Philodryas olfersii pode se assemelhar à acidente botrópico.

Já fui picado por uma delas, e passei muito mal.

Enquanto limpava meu 'serpentário' (box de chuveiro abandonado) agachado e distraído, quando meu 'amigo' Mario Amaro colocou o bicho nas minhas costas com um gancho longo, e ao tentar removê-la fui pego no polegar direito. O animal era grande, segurou e injetou bastante. O edema foi até o cotovelo, com muita dôr. Não procurei ajuda médica. Tinha 12 anos e criava o bicho escondido da família  Inventei que estava numa barreira de futebol de salão e fui atingido em cheio no braço. Poderia ter morrido.

Dois casos bem documentados abaixo:

 ARAUJO, Maria Elisabeth de and SANTOS, Ana Cristina M.C.A. dos. Cases of human envenoming caused by Philodryas olfersii and Philodryas patagoniensis (serpentes: Colubridae). Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Nov./Dec. 1997, vol.30, no.6, p.517-519. ISSN 0037-8682.

Na foto que se segue Gabriel, maravilhado, mostra a carinha dessa joia verde. Ele estava numa lagoa em Itauna, como Luca relata no vídeo acima, quando a cobra veio nadando em sua direção. Como não nasceu ontem na herpetologia, não meteu a mão. Acertou na mosca na classificação, 'uma Philodryas olfersii, papai', e com toda a segurança a trouxe neste galinho para o registro e posterior soltura.





























Já com a coral, as pessoas tendem a dizer que se o anel colorido passa pela barriga, dando volta completa no corpo do animal, a coral é verdadeira, gênero Micrurus. Negativo também, mas pelo menos aqui o erro não causa dano, além do tradicional abate desnecessário. Há duas falsas corais em que o anel colorido fecha o circulo no corpo da cobra: Erytrolamprus asculapii e Oxyrophus trigeminus, esta ultima na foto abaixo, com Luca hoje na FUNED.





O conselho é que se você não estiver sendo guiado por um grande especialista, não toque em coral, ou em qualquer cobra com anéis pretos e vermelhos, mais brancos e amarelos, em varias combinações.

Micrurus é proteróglifa, não pica aos botes, morde e inocula. Extração de veneno, só pipeta de Pasteur. O acidente é sempre o mesmo: um curioso classificando errado, passando o bicho de mão em mão até que alguem se dá mal,. Ou um tratador que se descuida. Ou um bicho com coluna quebrada na estrada, aparentemente morto, mas que dá o último golpe ao ser tocado. Ou o caso dos casos: um bebê com um único dente agarra a Micrurus que entra em seu berço, morde e mata a cobra com seu único dentinho, e leva uma mordida no queixo, sendo salvo pela Toxicologia do João XXIII, de BH:

http://www.youtube.com/watch?v=u27vVZDYY-Y&NR=1

O envenenamento é sempre gravíssimo, risco real de morte rápida por paralisia respiratória, com soro na maioria das vezes inacessível longe dos grandes centros. E para piorar, em função da diversidade do gênero  com 09 especies, nem sempre o soro é garantia de salvação:

http://www.plosntds.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pntd.0000622

Mais sobre corais, acidente e classificação, nos links abaixo:

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/05/o-dilema-das-corais.html

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/10/breno-e-o-inferno.html


Fui à FUNED hoje obter soro anti laquético, para a segurança dos trabalhos em  Serra Grande. Gabriel infelizmente na aula, Luca comigo. Foi uma visita de três horas, cobrindo tudo o que se possa imaginar que envolva animais peçonhentos.

Ao fim do dia, antes de apagar no carro no caminho de volta, Luquinha me revela que aquela tinha sido 'uma das cinco melhores tardes de sua vida", arrematando antes de apagar de vez: "meus colegas bilionários nunca viveram uma aventura de verdade". E relaxou.



Nem montanha russa, nem Disneylandia, nem shopping. Custo da tarde, 3 litros de gasolina, nem Visa nem Mastercard. Memorias para sempre, como a primeira cascavel, 'não tem preço'



Mais sobre Philodryas e Corais, aqui:

http://lachesisbrasil.blogspot.com.br/2013/08/primeiros-socorros-aos-acidentados-por.html